21.1.06

José Albergaria / João Tunes - DEBATE SOBRE A BIOGRAFIA DE CUNHAL

No MAPRIL

Isto mais parece uma campanha Alegre...

Hoje, malgrado o titulo, não vou falar de Presidenciais.

Não quero; não me apetece; não é sequer de bom augúrio fazê-lo.

Tenho assistido atónito (apalermado, embezerrado, desconsolado mesmo) a um curioso debate entre os próceres de Cunhal ( o dito e falecido, Alvaro para os amigos e camaradas que agora reivindicam a memória e as palavras que aquele poderia dizer a propósito de...se fosse vivo e...falasse.)

O Abrupto do JPP dá relevo ( e muito bem...) a quase todos os que têm escrito sobre o seu 3.º Volume da biografia não autorizada de Alvaro Cunhal.

Ainda não a li, mas já tinha "devorado" com inusitado prazer de "leitor" e deleite de pequeno actor, que fui, desses tempos revoltos (entre 1963 e 1986).

O que, verdadeiramente, me espanta é que, ainda hoje, possa ler-se prosear como o de Casanova (in-AVANTE) & Vilarigues (in- O Público) de teor inquisitorial, tenebroso e sem, cada um deles, ter medo do ridiculo.

Pode discutir-se a qualidade do trabalho do "historiador" JPP, as escolhas que faz para o enfoque da biografia de A.Cunhal, o rigor das fontes, a insuficiência de testemunhos... e outros pormaiores da monumental obra.

Não se pode, hoje, em pleno dealbar do Século XXI sugerir que JPP coordena, nesse terreno de historiador, uma Campanha anti-comunista, ou anti PCP! Digo eu.

A prosa de Casanova & Vilarigues são demasiado simplistas - para serem verdadeiras.

Elas não pretendem "discutir" a História de A. Cunhal e do PCP. Creio eu que elas visam fazer fogo de barragem, por antecipação, para o 4.º Volume de JPP que há-de sair.

E porquê?
Por uma razão que me parece óbvia.
Em vida de A. Cunhal, sairam 2 volumes. Nem uma palavra oficial foi escrita sobre eles. Cunhal morre e logo se alevantam duas vozes da nomenklatura.

Os dois primeiros volumes falavam de coisas muito distantes. Já praticamente não há, nem havia já há época, testemunhos desses tempos. Os últimos a desaparecerem foram, exactamente, Ludgero Pinto Bastos e A. Cunhal.

É já o 3.º volume que traz coisas sobre as quais ainda existem testemunhas (Dias Lourenço, Jaime Serra, Sergio Vilarigues, etc), mas já muito idosos e debilitados fisica e psicologicamente.

O 4.º volume vai intervir desde a fuga de Peniche (que sei eu das intenções do autor?!...), provavelmente, até ao 25 de Abril (?), até ao 25 de Novembro (?) até à morte de A. Cunhal...

Aqui estaremos já no terreno da "luta politica e partidária", da história contemporânea com imensos actores vivos e de boa saúde.

Como se sairá desses escolhos o "historiador" JPP? A ver vamos.

O que Casanova & Vilarigues pretendem é, desde já, diminuir o "historiador" JPP, descredibilizá-lo - para que o seu empreendimento deixe de ter o brilho que realmente tem e que, estes próceres de A. Cunhal - já têm dificuldaes em apoucar.

A história já não lhes pertence e já não controlam as almas que um dia conseguiram fazê-lo. A utopia deles é já pertença da História e como tal pode ser tratada e escrita - por quem tem competência e vontade para o fazer.

Poderá ainda ter alguma eficácia para dentro do "Partido"? Talvez.

Mas quantos militantes do PCP compraram e leram os livros de JPP? E com que deleite o fizeram, aprendendo a História do "seu" Partido. Isto, Casanova & Vilarigues, não os preocupa nem interessa. O que lhes interessa é mostrar serviço ao controleiro-mor, ao "operário" (pensavam que ia falar de S. Jerónimo? Engano puro!) Domingos Abrantes, que foi proto-SG aquando do aneurisma de A. Cunhal, mas que morreu na praia da sua desmesurada ambição. Fica para a "hagiografia" militante de Casanova & Vilarigues como o "vero" SG desde que A. Cunhal "cedeu" o seu lugar a C. Carvalhas e, agora, ao simpático quanto prolixo J.S.

A história é o que é; é o que foi; e será aquilo que os historiadores forem capazes de "desenterrar" e verter em letra de forma.

O mérito de JPP é de ter sido dos primeiros a fazê-lo em relação à história do PCP, mas, como muito bem o escreveu ( e com que dignidade o fez!) tendo por companhia os nossos "manos" maprilistas António Moreira e Rogério Rodrigues.

José Albergaria

posted by Mapril @ 19:18 2 comments

2 Comments:

At 16 Janeiro, 2006 22:17, Anonymous said...

Caro Zé, vou fazer de conta que não te conheço de lado algum (a alegria de te re-encontrar fica para outra ocasião, mais solene) para, se me permites fazer algumas observações a este teu post. E umas tantas precisões (a opinião não dispensa, pelo contrário, o rigor).

Um dos engulhos grandes da “nomenklatura imobilista” é que uma parte importante do conteúdo do 3º volume da obra de JPP contou com a colaboração activa de Jaime Serra (que, aliás, a validou com a sua presença pessoal, mais da sua companheira Laura) no lançamento deste volume. E contou ainda com contributos importantes dos “diários partidários” de Aboim Inglês e Octávio Pato, ambos já falecidos (por terem ido parar à Pide nas apreensões de materiais quando das suas prisões) e que, pelo facto, de estarem arquivados na Pide, mas escritos pelos seus punhos, em nada perdem a autenticidade. Dias Lourenço, muito citado, ainda não levantou voz a desmentir JPP. Só Vilarigues (pai) falou em “atentado à memória de Álvaro” sem concretizar o que desmente, apenas tentando desqualificar moral e politicamente JPP perante Cunhal (o que é curto, quando se trata de desmentir um historiador). E, depois, veio o Vilarigues (filho) a dar prova, compreensível ao nível das emoções, de partilha filial com a indignação generalista de sinal paterno. Mas quer uma quer outra indignação - a de Vilarigues (pai) e a de Vilarigues (filho), porque nada acrescentam “aos autos”, ficando-se pela superioridade de proximidade paterna com Cunhal, se são atitudes de respeitável solidariedade paterno-filial, deviam ser apenas motivo para uma recatada obra de serão familiar. Casanova vai na mesma onda, mas esse é o seu mister diário à frente do actual “Avante” – demonstrar que o jornal que dirige nada tem a ver com o materialismo histórico e, por sobradas razões, com o materialismo dialéctico (uma e outra, insignificantes na actual vida do PCP, em que ser-se comunista é “estar com o Jerónimo”, o que é, convenhamos, o mais baixo “qb” de se ser comunista).

João Tunes

(continua)

At 16 Janeiro, 2006 22:20, Anonymous said...

(continuação)

Quanto ao 4º volume prometido da biografia política de JPP sobre Cunhal, ela tem um prazo temporal marcado que não vai além do 25 de Abril de 1974. O 3º volume termina em 1960 e na fuga de Peniche. O 4º volume vai tratar de todo o rico e intenso período (afinal, o que, geracionalmente, mais me interessa) em que Cunhal se consagra como dirigente máximo e incontestado do PCP, arruma Fogaça (que bem merecia ser arrumado, mas politicamente e não pelo miserável pretexto de levar no cú), trava e inverte o “desvio de direita”, depois arruma o Chico Martins Rodrigues (que mereceia melhor arrumo que o de “ter-se apoderado de uma máquina de escrever que era propriedade do Partido”) pelo “desvio esquerdista” (que, afinal, foi um sintoma do ascenso de luta em 1962), culminando no “Rumo à Vitória” e no VI Congresso em Kiev que dariam, definitivamente, o cunho (cunhalista) monolítico ao PCP. E esse cunho foi obra de um génio político (Cunhal), com luzes e sombras, cuja maior fragilidade é ter inviabilizado uma sucessão à sua altura ou proximidade, tendo, antes, degenerado até este deprimente e mediático resultado (pelos vistos, com margem de sucesso) de um bailarino-fadista-beijoqueiro-comunicador que, como SG, arrasta o PCP para o destino de um aglomerado populista-eleitoral.

Julgo que exactamente para fugir a esses escolhos que referes – o da "luta politica e partidária”, JPP sempre assumiu que não falaria, nesta obra, do Cunhal político depois do 25 de Abril. E isso é mais um crédito a seu favor.

Como deduzirás, do ponto de vista político, menos ainda se formos para o campo partidário, JPP será das últimas pessoas com quem tive, tenho e terei afinidades (cruzes, canhoto). Mas, infelizmente (!!!) e o destino assim o quis (pelo abandono antigo do PCP perante a verdade histórica), a história possível e acessível do PCP é a feita pelo JPP e pouco mais. Porque aquilo que o PCP oferece, oficialmente, aos seus militantes, quanto ao seu passado, é a verdade e a mentira servidas na propaganda que nos acabam por fartar porque nunca sabemos onde acaba uma e começa a outra.

Aquele abraço.

João Tunes

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